Eu apóio Jean Wyllys para Dep. Federal PSOL RJ 5005 - Vote na coerência RJ!!!

domingo, 14 de março de 2010

Parto natural humanizado - isto é importante para a mulher -deveria ter em todos os Hospitais e Maternidades.

Artigos

Parto humanizado retoma antigos procedimentos e devolve à mãe o controle do ritmo do seu corpo na hora de dar à luz

Grande parte das mulheres passam a gestação preocupadas com a hora do parto, afinal a própria palavra se tornou sinônimo de algo sacrificado, difícil e até mesmo doloroso. Mas será que a hora de receber o bebê aguardado por nove meses deve ser realmente traumátca? Para a enfermeira obstetra Andréa Porto da Cruz, não.

Com experiência na área de obstetrícia, a enfermeira é defensora do parto natural humanizado e diz que com este método a mulher pode ter total domínio do momento do nascimento. “O parto natural ou humanizado representa uma retomada do método antigo de dar à luz quando a mulher dita o ritmo do parto, ela escolhe como terá o bebê e quando ele nascerá”, diz Andréa.

A diferença entre parto natural humanizado e o parto normal é justamente a maneira como o processo é conduzido. No parto humanizado o atendimento é centrado na mulher, que é tratada com respeito e de forma carinhosa, podendo desfrutar da companhia da família, caminhar, tomar banho de chuveiro ou banheira para aliviar as dores. As intervenções de medicamento, aceleração do parto ou mesmo o tradicional corte vaginal acontece somente quando é estritamente necessário.

“Hoje o parto normal é mesmo um sofrimento. A mãe tem que ficar deitada todo o tempo em que está em trabalho de parto, geralmente com soro que acelera o processo, na hora do parto ela é removida para outra sala e recebe de qualquer forma o corte vaginal. Além de tudo isso ela não pode gritar, andar e muitas vezes fica sozinha durante este processo”, explica a enfermeira.

Alguns hospitais oferecem uma situação mais acolhedora na hora do parto, com quartos que são usados antes, durante e depois do parto, mas a também enfermeira obstetra Karina Fernandes comenta que para isso toda a equipe deve estar preparada e disposta para enfrentar o trabalho de parto no ritmo da mulher.

Karina acompanha partos em casa. Ela diz que a mulher que opta pelo parto natural deve estar disposta e consciente de que terá papel ativo no parto. A enfermeira, quando solicitada para este tipo de parto caseiro, acompanha a gestante desde o início das contrações até o nascimento e deve estar preparada para levar a gestante para o hospital caso o parto natural não seja realmente possível.

O grande medo de toda mulher é a dor. Sobre isso, Andréa explica que ela varia muito de pessoa para pessoa e que ela pode ser aliviada de forma natural, com massagens nas costas, aromaterapia, banhos de chuveiro ou de banheira. O tempo em que a gestante fica em trabalho de parto também pode ser variado. Em geral a primeira gestação leva em torno de 16 horas, já as demais o tempo chega a 12 horas.

Para que os casos de intervenção sejam minimizados existem alguns procedimentos que podem ser feitos antes de se optar pela cesárea. “Colocamos a gestante para fazer alguns exercícios em bola de parto e outros aparelhos para recolocar o bebê em posição para o parto. Vamos monitorando o tempo todo, com o partograma, que é um gráfico para avaliar a evolução do parto e no caso de necessidade de intervenção e em ultimo caso encaminhamos para a Cesárea”, diz Andrea.

Além do fator humano e sentimental o parto natural também oferece uma recuperação mais rápida para a mãe e menos risco para o bebê, isso por que ao nascer de parto natural ele corre menos risco de aspirar liquido e também de infecções.

Hoje no Brasil são realizados 80% de Cesáreas em hospitais particulares. Na rede pública este número cai para 35%, mas o número de nascimentos por parto normal ainda está muito abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde, que estipula uma média de 15% de cesáreas.

Érica Rizzi

Esta página foi publicada em: 10/03/2010.

http://guiadobebe.uol.com.br/parto/parto_humanizado_devolve_a_mae_o_controle_no_parto.htm

Paciência histórica e habilidade política: os desafios do PSOL em 2010

Bernardo Corrêa - Militante do MES/PSOL-RS

A importância da tática eleitoral

O debate instaurado no PSOL acerca da campanha eleitoral de 2010 nos remete à necessidade de revisitar alguns debates. Ao contrário do que muitos fraseólogos de esquerda afirmam sobre o caráter praticamente residual ou propagandístico da participação dos revolucionários nas eleições, a conquista do sufrágio universal e a possibilidade dos partidos operários apresentarem- se, foi saudada por Engels[1], como uma tática privilegiada, em especial no que se referiu à atividade do Partido Social-democrata alemão:

“O sufrágio universal existia na França há já muito tempo, mas tinha-se desacreditado devido ao emprego abusivo que o governo bonapartista fizera dele. Depois da Comuna não havia partido operário que o utilizasse. Também em Espanha ele existia desde a República, mas em Espanha a abstenção fora sempre a regra de todos os partidos sérios da oposição. Também na Suíça as experiências com o sufrágio universal não eram de modo algum encorajadoras para um partido operário. Os operários revolucionários dos países latinos tinham-se habituado a ver no sufrágio universal uma ratoeira, um instrumento de logro utilizado pelo governo. Na Alemanha, porém, as coisas eram diferentes. Já o Manifesto Comunista tinha proclamado a luta pelo direito de voto, pela democracia, uma das primeiras e mais importantes tarefas do proletariado militante, e Lassale retomara este ponto. Quando Bismarck se viu obrigado a introduzir o direito de voto como único meio de interessar as massas populares pelos seus planos, os nossos operários tomaram imediatamente a coisa a sério e enviaram August Bebel para o primeiro Reichstag Constituinte. E, desde esse dia, têm utilizado o direito de voto de um modo que lhes tem sido útil de mil maneiras e servido de modelo aos operários de todos os países”.

As “mil maneiras” às quais se referia Engels caracterizavam a combinação tática necessária entre o trabalho de agitação política e propaganda e também a combinação do trabalho legal e ilegal na qual Lênin, Trotski e os revolucionários russos foram os principais mestres. Tais táticas possibilitaram que o Partido obtivesse amplo apoio frente aos trabalhadores alemães e uma autoridade política enorme que fortaleceu o desenvolvimento de um amplo movimento sindical e político em torno da social-democracia alemã. Engels insiste nos ganhos da utilização da tática eleitoral e afirma de forma clara qual deve ser o intuito da participação nas eleições:

“...se o sufrágio universal não tivesse oferecido qualquer outro ganho além de nos permitir, de três em três anos, contar quantos somos; de, pelo aumento do número de votos inesperadamente rápido e regularmente constatado, aumentar em igual medida a certeza da vitória dos operários e o pavor dos seus adversários, tornando-se assim no nosso melhor meio de propaganda; a de nos informar com precisão sobre as nossas próprias forças assim como sobre as de todos os partidos adversários e, desse modo, nos fornecer uma medida sem paralelo para as proporções da nossa ação e nos podermos precaver contra a timidez e a temeridade inoportunas; se fosse esta a única vantagem do sufrágio universal isso já era mais que suficiente. Mas tem muitas outras. Na agitação da campanha eleitoral, forneceu-nos um meio ímpar de entrarmos em contacto com as massas populares onde elas ainda se encontram distantes de nós e de obrigar todos os partidos a defender perante todo o povo as suas concepções e ações face aos nossos ataques; além disso, abriu aos nossos representantes uma tribuna no Reichstag, de onde podiam dirigir-se aos seus adversários no Parlamento e às massas fora dele com uma autoridade e uma liberdade totalmente diferentes das que se tem na imprensa e nos comícios.

Muitos talvez digam que aí mora a natureza da capitulação da social-democracia e da Segunda Internacional (também teriam de comprovar a capitulação de Engels), o que comprovaria sua ignorância acerca da história das organizações políticas. O processo pelo qual passou a social-democracia alemã de acúmulo de forças conseguiu combinar as lutas sindical e política de maneira esplêndida. A traição dar-se-ia 20 anos depois, não pela participação no parlamento, ou pela disputa das eleições, mas pelo chauvinismo perante a guerra e o apoio aos créditos de guerra no parlamento alemão.

Ainda assim, sabemos que a justeza da tática eleitoral não substitui, em nenhuma medida, a necessidade da insurreição e do assalto ao poder. Esta é a estratégia de todos os revolucionários, a ruptura violenta da ordem capitalista e a instauração do Estado Operário.

O que é preciso compreender é que em períodos de refluxo das lutas sociais, similares ao que vivemos hoje no Brasil, a “guerra de posição” ganha proeminência sobre a “guerra de movimento”, para usar as expressões de Gramsci. Saber utilizar as “mil maneiras” de romper o cerco é uma arte que o marxismo ensina.

Os bolcheviques também nos aportam sobre o problema das eleições. Primeiramente em 1906, quando a eleição da primeira Duma significou uma manobra de estabilização pós-derrota da revolução de 1905, Lênin[2] defendeu o boicote às eleições em janeiro de 1906:

“Porque nós, no presente momento, não podemos acrescer nenhuma vantagem ao Partido por eleições. Não há liberdade de expressão ou de manifestação de controvérsias. O partido da classe trabalhadora é ilegal, seus representantes estão presos sem o devido processo legal, seus jornais foram fechados e suas reuniões proibidas. O Partido não pode, de forma lícita, divulgar seus objetivos nas eleições e publicamente nomear seus representantes sem traí-los entregando-os à polícia. Nesta situação, nosso trabalho de agitação e organização é muito mais útil em um uso revolucionário de nossos encontros sem tomar parte nas eleições participando em encontros permitidos para eleições dentro da lei”.

Em 1920 no II Congresso da Internacional Comunista foram aprovadas as teses sobre a questão parlamentar. Algumas passagens são bastante úteis para a compreensão da tática eleitoral:

“...A participação nas campanhas eleitorais e a propaganda revolucionária do cimo da tribuna parlamentar têm uma importância particular para a conquista política dos setores da classe operária que, como as massas trabalhadoras rurais, permaneceram até então, afastadas da vida política”.

“Por conseqüência, reconhecendo a necessidade de participar, em regra geral nas eleições parlamentares e nas municipalidades, o Partido Comunista deve decidir a questão em cada caso concreto, tendo em conta as particularidades específicas da situação. O boicote das eleições e do Parlamento, assim como a saída do Parlamento, são sobretudo hipóteses admissíveis em condições que permitam a passagem imediata à luta armada para a conquista do poder”.

Sabendo do caráter secundário da ação parlamentar frente à ação de massas, a utilização das eleições deve servir, em primeiro lugar, como um termômetro (distorcido) de nossas forças. Não estamos em um momento onde prevalece a necessidade da propaganda socialista, pois não se trata de uma medição de idéias ou valores. Tampouco vivemos um regime de restrições às liberdades democráticas que justificasse um boicote ou mesmo uma anticandidatura. Participaremos de uma eleição que será uma medição de forças na qual não está colocada abertamente a questão do poder.

Ainda que sejam necessários alguns elementos de propaganda e a afirmação dos nossos objetivos socialistas, o fundamental é apresentar determinadas medidas concretas que respondam às necessidades do povo e agitar a importância da mobilização dos trabalhadores para a sua realização. A credibilidade de um programa de tarefas concretas ao movimento dos trabalhadores confunde-se com a credibilidade da direção política que deve levá-lo à frente, ou seja, o Partido. Este é o ponto central do debate que estamos fazendo no PSOL.

O imobilismo lulista, o ceticismo e o isolamento voluntário de Plínio

Apesar da traição do PT no combate à burguesia brasileira, o peso do lulismo e do petismo fazem com que haja dois fenômenos que se combinam. Por um lado, os “movimentos sociais autênticos” que, segundo Plínio Arruda Sampaio, “falam diretamente com as grandes massas e, portanto, podem nos transmitir suas aspirações” tem suas direções cooptadas pela direção petista e, ao contrário de poder nos transmitir as aspirações do movimento de massas, atuam sobre suas bases transmitindo as aspirações do governo e amortecendo as lutas sociais. Ainda que no movimento camponês este processo seja mais contraditório do que no sindical e estudantil, a declaração de João Pedro Stedile adiantando que o MST fará uma ampla campanha anti-Serra, não passa de um apoio tímido ao PT. Portanto, seria equivocado encontrar nesses movimentos hoje, sem que haja nenhum deslocamento de suas direções ou mesmo um desprendimento de suas bases, o sujeito social do combate ao projeto social-liberal de Lula e muito menos o sujeito político privilegiado da construção do PSOL. A unidade de ação com o conjunto dos movimentos da classe é uma busca constante de nosso partido, no entanto, não se pode ter uma política seguidista das direções destes movimentos. Ao não compreender isso, Plínio incorre no seu pior erro que é secundarizar a importância do PSOL.

O segundo fenômeno é o ceticismo da população com a política. De certa maneira também é subproduto do primeiro, pois quando os movimentos sociais e populares fragmentam sua política em uma colcha de retalhos de demandas específicas (econômicas, culturais, etc.) o próprio governo e o PT acabam sendo representação do projeto político mais global. Evidentemente que a podridão do regime, as alianças da base do governo Lula e a corrupção descarada reforçam o ceticismo. Ainda assim, é importante compreender a dimensão contraditória do ceticismo do povo. A mídia e a classe dominante tratam de se utilizar da indiferença com as decisões políticas por parte da população para fazerem seus negócios às escuras. Mas, por outro lado, não é muito útil aos socialistas revolucionários que haja uma referência na estabilidade do regime ou que este seja visto como algo positivo. A política do ponto de vista dos revolucionários é uma atividade de emancipação das amarras do Estado enquanto que a crença nas instituições do regime significa exatamente o oposto. Contudo, o regime segue forte e o governo dirige a estabilidade com um discurso que tem tanto de simpático para o povo quanto de reacionário ao convencer amplas massas de que o melhor cenário para a mudança é o “consenso”, o “diálogo” e outras variantes da conciliação de classes.

Como decorrência deste contexto, a principal tarefa é afirmar o PSOL, disputar a credibilidade e a viabilidade do projeto de superação do PT enquanto direção da classe trabalhadora. Para fazer isso, necessariamente precisamos responder aos dois fenômenos supracitados, ou seja, mais do que palavras de ordem de caráter sistêmico precisamos responder ao regime e ao governo neste momento. Nesse aspecto, o mais importante é a denúncia do regime através do tema da corrupção e um programa de governo antiimperialista, anticapitalista e de defesa dos direitos dos trabalhadores e do meio ambiente. Pois Plínio insiste em errar e se apresenta como um anticandidato reforçando a idéia (seja petista, seja cética) de que não há viabilidade para o PSOL. Como programa apresenta palavras de ordem abstratas que confortam a intelectualidade e animam uma minúscula vanguarda. Uma política que não disputa com o PT ou com o PSDB, mas com o PSTU que não precisamos dizer o peso social que tem.

Na situação em que vivemos qualquer política de esquerda que tenha como centro a vanguarda tende a isolar o PSOL e, conseqüentemente, favorecer o PT. Isto porque aos olhos do movimento de massas o projeto petista aparece como “menos pior” ou, no mínimo, mais factível. Ou seja, nosso propagandismo ajuda o PT invariavelmente.

Plínio errou, ainda, em se afastar ainda mais das principais características fundacionais do PSOL: em sua entrevista à revista Carta Capital, elogia Lula, elogia Serra e não deixa claro que projeto representam e quais suas semelhanças. Joga seu arsenal contra Marina Silva sem o mínimo de diálogo com as posições pró-Marina que envolve, em grande parte, os que estão buscando uma alternativa à ciranda conservadora de PT e PSDB. Ao não reivindicar o capital político de Heloisa Helena e atacar a direção do PSOL publicamente, mais uma vez joga água no moinho do lulismo e desmoraliza a construção de uma alternativa.

É preciso compreender que o PSOL, definitivamente, não nasceu para ser conselheiro de esquerda do PT. O PSOL precisa derrotar o PT, disputando os setores que se deslocam (como foi em 2003, em 2005 e também na política sobre Marina) e buscando a liquidação de seu núcleo dirigente. Sem essa premissa, disputar o poder no Brasil não passa de ilusão.

Martiniano a alternativa do PSOL em defesa da Esquerda Socialista e Democrática

Ainda que alguns se incomodem com tal afirmação, ainda não há notícias de nenhuma revolução socialista vitoriosa em um país democrático-burguê s. A combinação de tarefas imediatamente democráticas com as tarefas socialistas é recorrente nas revoluções. Logo, é preciso fazer um debate sobre a possibilidade dos regimes burgueses em serem conseqüentes com as tarefas postas. O debate entre Rosa Luxemburgo e Lênin acerca das possibilidades da revolução alemã, entre o Partido de vanguarda e o Partido de massas, a bem da verdade, ainda não foi resolvido pela história. A busca por uma síntese é tarefa dos que lutam hoje pela revolução. Se for verdade que a história não se repete a não ser como farsa ou tragédia, também é verdade que as revoluções também não respondem a fórmulas prontas e modelos estanques.

No Brasil, um país que é marcado pelas “soluções por cima”, quais os limites da democracia burguesa? O PT ensaiou uma formulação de “radicalização da democracia”, mas não foi conseqüente por suas ilusões no Estado burguês e pela estratégia da conciliação. Mas será que está esgotada a necessidade de lutas democráticas com o esgotamento do PT? Opinamos que não. As mesmas oligarquias que negociaram as “soluções por cima”, hoje estão na base do governo Lula e se utilizam de diversos expedientes entre os quais a corrupção é um dos mais conhecidos. Se olharmos para a América Latina com Chávez, Correa e Evo Morales, ou mesmo o golpe em Honduras, mais ainda se reforça a tese de que não estão esgotadas as tarefas democráticas e ainda menos a utilização das eleições para um processo de empurrar a legalidade para o limite da ilegalidade, como na fórmula de Engels: “Só poderão levar a melhor sobre a subversão social-democrata, a qual neste momento vive de respeitar as leis, pela subversão dos partidos da ordem, a qual não pode viver sem violar a lei”. Faz parte desse programa a luta antiimperialista que deixe claro o lado que assumimos na América Latina em defesa do processo bolivariano. No programa apresentado por Plínio sequer esta posição fica clara.

Nossa luta contra a corrupção tem sido um dos pontos altos do PSOL, pois combina a denúncia do regime com a indignação popular e tem capacidade de mobilizar os trabalhadores e os setores médios, além de ser o elo mais aparente entre PT e PSDB. Isso não pode ser abandonado em períodos eleitorais. Pois no programa da pré-candidatura de Plínio nada consta sobre este tema.

A propaganda socialista em nenhuma medida pode prescindir da agitação política. Por isso, o programa que apresentamos não pode ser uma bela carta de intenções abstratas ou uma declaração de amor ao socialismo. Nosso trabalho consiste, fundamentalmente, em encontrar brechas na ordem para fomentar a superação desta ordem. Reformas substanciais em nosso país, não acontecerão sem combates duros e massificados. Lutar por elas não é iludir os trabalhadores de que possa haver um capitalismo mais humano, mas, essencialmente, desmascarar a classe dominante e seu sistema que não pode conceder para manter suas taxas de lucro. Contraditoriamente à verborragia socialista, as reformas propostas por Plínio assentam-se na Reforma Agrária através de créditos e minifúndios e uma reforma da educação que baseia-se na estrutura educacional voluntarista da Igreja. Ou seja, confusas e recuadas frente ao que o PSOL acumulou (crítica do capital financeiro, corrupção, reformas sociais estruturais, etc.).

Justamente por essa falta de clareza estratégica e pelos inúmeros erros táticos é que Plínio, apesar do respeito aos seus muitos anos de militância, não pode ser porta-voz do PSOL nas eleições de 2010, e, por outro lado, estes são os principais atributos de Martiniano. Por vezes, ouvimos alguns militantes falar do prestígio de Plínio, da densidade eleitoral de Plínio etc. relegando a pré-candidatura de Martiniano a um movimento “internista”. Pois temos certeza que os objetivos da pré-candidatura de Plínio são fundamentalmente internos ao PSOL. Uma luta pela direção do partido. Não fosse assim, não teria porque um dos eixos das falas públicas de Plínio ser a diferenciação com a direção do PSOL e com nossa presidenta Heloísa Helena!

Outro argumento recorrente é que a candidatura de Plínio seria a garantia da “Frente de Esquerda” e de uma maior densidade eleitoral. Ambos são falsos, primeiro que em nada está garantida a Frente de Esquerda, não por uma decisão do PSOL, mas porque na ausência de Heloisa Helena PCB e PSTU vão buscar ocupar esse espaço, já o disseram e escreveram. Segundo, o perfil de Martiniano mais próximo de Heloisa Helena, seu desempenho nos debates se opõem ao perfil de anticandidatura apresentado por Plínio. Evidentemente, isso pode ajudar no desempenho do PSOL nos estados e nos permitir um saldo político muito mais palpável do que os “núcleos socialistas” propagandeados por Plínio.

Por fim, o partido nunca segue imune às pressões sociais e os fenômenos que citamos também atuam sobre nós. Se uma “reconfiguração” do PSOL refletir a pressão do ceticismo na forma do propagandismo podemos nos tornar algo como o PSTU. Por outro lado, se a pressão do lulismo significar nossa posição de conselheiro de esquerda do PT estaremos renegando a fundação do PSOL. Se as duas estiverem coadunadas em uma candidatura, no espírito da fraternidade comunista que nos é comum, não hesitaremos em combater. Milhares de militantes que lutaram pela legalização da sigla e milhões que assinaram para a existência legal do PSOL, não podem aceitar a desmoralização, seja qual forem as intenções que a movem.

Das revoluções que conhecemos a mais famosa é a revolução russa, que foi feita sob a palavra de ordem Paz, Pão e Terra, perfeitamente combinada a uma profunda rebelião popular. Só pode chegar a esse grau de síntese um partido com vínculos orgânicos com os trabalhadores e uma incontestável autoridade sobre o movimento de massas. A simplicidade daquela palavra de ordem revela (e não esconde) sua amplitude de poder. Se bradassem “socialismo!”, pura e simplesmente, talvez os bolcheviques não tivessem erguido o primeiro Estado Operário do mundo. Quando as condições permitiram, tiveram a paciência e a habilidade de explicar às mulheres, aos soldados, aos camponeses e aos operários que só teriam terra, pão e paz se lutassem pelo socialismo.

Nossas condições são outras, mas não por isso devamos ter menos paciência histórica e habilidade política. Martiniano Cavalcanti é a representação das duas.

Martiniano Presidente! Em defesa da Esquerda Socialista e Democrática!

Martiniano, Plínio e Babá






A candidatura, a anti-candidatura e a linha auxiliar

Rodrigo Silva (Digão) – PSOL/SP

Após o primeiro debate entre os prés-candidatos a presidência do Brasil pelo PSOL é possível reconhecer a quem serve cada uma das candidaturas.

Martiniano e sua militância têm se jogado no debate político sobre a futura candidatura do partido e a melhor maneira de dialogar com a população, fato que não tem sido acompanhado pelos outros candidatos e sua militância.

Ainda na candidatura de Plínio, pode-se encontrar uma ou outra proposta programática, mesmo sendo estas voltadas apenas à vanguarda e aos movimentos sociais mais organizados em detrimento dos quase 7 milhões que votaram no PSOL em 2006.

O triste neste cenário é ver como tem se portado a candidatura de Babá e a sua militância. Babá e CST têm servido como linha auxiliar à candidatura de Plínio. Em suas defesas, como já foi apontado por diversos companheiros em nas avaliações do primeiro debate, a tônica usada é de intenso ataque à Martiniano, não apresentando propostas programáticas, e sim pavimentando o caminho para a candidatura de Plínio.

É justo que se apóie uma ou outra candidatura e é totalmente saudável o momento de debate que enfrentamos no partido. Mas é preciso que essa defesa seja a mais clara possível. Não é aceitável que haja uma candidatura com o papel de reduzir o debate político à acusações a um candidato ou a sua militância.

Em carta divulgada pela Internet, Michel Oliveira e Diego Vitello criticam o fato de Martiniano ter sido defensor das conversas com Marina Silva. É preciso esclarecer aos companheiros que essa foi uma linha aprovada na Executiva Nacional e que hoje grande parte dos apoiadores de Plínio defendiam que elas ocorressem, como a APS inteira e, Ivan Valente em especial, e o Enlace de João Alfredo. Por que não vemos então críticas a essa candidatura, que tem duas grandes correntes que apoiaram essa mesma linha? As críticas ainda deveriam ser feitas a Plínio e seu grupo pelo fato de que a revelia das instâncias partidárias, esses propagandeavam uma candidatura própria do PSOL e já estabelecia aquele como candidato.

É interessante o fato de se agregar em uma candidatura aqueles que, desrespeitando o resto do partido, trabalharam paralelamente numa candidatura própria e, os que até o último momento participaram das conversas com Marina Silva/PV. Mais interessante ainda é o fato da candidatura de Babá e seus apoiadores não apresentarem nenhuma crítica a esse grupo, mas trabalharem o tempo todo na ofensiva contra Martiniano.

É preciso entrar no debate de que apesar de ser um partido socialista e ter como objetivo o socialismo, o PSOL não se resume a debater apenas com os socialistas. O caráter fundacional do partido deve ser relembrado e reafirmado neste momento. O PSOL nasceu com uma grande responsabilidade: agrupar a esquerda brasileira que se encontrava desarticulada, mas esse partido nasce com outro grande papel que era o de conseguir influência nas massas e, isso não quer dizer apenas organizar os socialistas convictos, mas debater e militar dia a dia ao lado daqueles que apresentavam papel mais progressista na sociedade e através da luta cotidiana elevar a consciência destes lutadores.

O PSOL não deve ser apenas um partido de socialistas para socialistas e sim um partido do povo para o povo. Querer restringir o debate político à pequena parcela socialista da população brasileira é cumprir o papel que a burguesia espera que cumpramos, o papel de ser sempre, parafraseando o poeta Thiago de Melo “a solitária vanguarda de nós mesmos”, um partido fechado em si, papel que já é cumprindo por alguns partidos há mais de vinte anos. O PSOL deve sim falar em socialismo, mas se isso não for sinônimo de diálogo (e principalmente diálogo com a população), não é socialismo, é propagandismo. E propagandismo é a antítese do socialismo.

Michel e Diego ainda saem em defesa de Plínio, pelo fato deste ter avaliado que “o governo Lula foi muito melhor que o governo FHC”. Para absolver Plínio, justificam que seria o mesmo que um hipotético apoio de Luciana Genro ao ministro petista Tarso Genro caso ocorra um segundo turno no Rio Grande do Sul. É preciso que neste momento de fervilhante debate político no interior do partido, as análises se atenham a fatos e não a hipóteses deslocadas do eixo do debate.

Os companheiros dialogam durante toda sua carta com o dirigente do MÊS Roberto Robaina. Fazem isso pelo fato de historicamente combaterem a direção do partido, mas se esquecem de que hoje “a nova maioria” está ao lado da candidatura de Plínio. Mas atacam Robaina por outros motivos. Atacam-no porque ele luta para que o PSOL se afirme como um partido que disputa o poder e a influência nas massas, porque fez com que o PSOL gaúcho, junto com Luciana Genro, fosse um exemplo de combate ao capitalismo, sabendo aproveitar-se de suas fissuras e explorar suas instâncias burocráticas.

Michel e Diego criticam ainda a disputa do delegado Prótogenes, como se ele não devesse ser disputado. O delegado foi disputado como devem ser disputados todos os outros não socialistas. O PSOL não deve se limitar a disputar os socialistas convictos, disputar a pequena vanguarda existente com PCB e PSTU. A imensa maioria da população brasileira não é socialista. Por isso o Brasil e o mundo estão como estão. Devemos disputar aqueles que não são socialistas e essa tarefa é a mais difícil, a disputa com o capital. Não devemos trilhar o fácil caminho de ser a pureza do socialismo que se proclama às vanguardas e sim assumir nosso papel histórico de disputar cada brasileiro com o capital, com a Rede Globo, com o voto de cabresto, com a idéia de que todo político é corrupto, do voto útil e do voto no menos pior.

Esperamos que a candidatura de Babá mostre realmente a que veio, apresentando assim elementos que o postule realmente a ser o candidato à presidência do Brasil pelo PSOL, ou que assuma a simpatia que tem pela escolha de Plínio na convenção eleitoral dos dias 10 e 11 de abril.



Sobre vagabundas, universitários e 8 de março 100 anos depois

08.03.2010 · Sem categoria

Há pouco mais de uma semana participei de uma debate sobre educação e uma outra universidade possível na USP. Dentre outros debatedores estava na
mesa o professor Chico de Oliveira, sociólogo dos mais reconhecidos,
responsável por obras-primas como “Crítica à razão dualista” e “Elegia
para uma Re(li)gião”.

Respeito muito o Chico por suas obras e pela contribuição que deu como intelectual de esquerda, progressista. Contudo, boa parte de suas últimas declarações têm sido indefesáveis.

Naquele debate na USP, ao tentar defender que a diferença entre classes era o eixo estruturante das opressões em nossa sociedade – opinião não contestada por nenhum debatedor – Chico resolveu abordar a
questão da divisão sexual, excedeu-se e se perdeu absolutamente.
Afirmou em alto e bom som para toda a platéia do auditório cheio onde
estávamos, que a opressão de gênero, contra a mulher, havia terminado e
a prova disso era a grande quantidade de mulheres que entravam na
faculdade. Eu não ouvi de terceiros, não li em nenhum lugar, escutei
direto do Chico, na mesa.

Na hora me veio à cabeça o questionamento sobre o quanto a universidade e sua “intelectualidade” pode estar descolada da realidade, mesmo quando falamos de pensadores “progressistas”.

Quem pode ignorar a violência contra a mulher, a quantidade de mulheres que morre por não ter direito ao próprio corpo, a desigualdade de salários, o machismo presente em todas as camadas sociais? A
universidade, teoricamente lugar da crítica, do pensamento
transformador e livre, por mais das vezes torna-se um mundo à parte do
mundo.

Mas, apesar das máscaras, a realidade bate às portas do mundo da fantasia. Na recepção aos calouros da USP várias demonstrações contrariaram de forma contundente o professor Chico de Oliveira. Na
mais repercutida delas, um cartaz divulgado por alguns alunos da Escola
de Comunicação e Artes (ECA) referia-se às estudantes daquela faculdade
como vagabundas.

Reproduzo abaixo um excelente artigo da Tati Ribeiro, estudante da ECA sobre o episódio. Uma lição para todos nós, consideremo-nos intelectuais ou não. Um século depois da decisão de que todo 8 de março
deveríamos lembrar das mulheres que reivindicaram seus direitos e foram
queimadas vivas em uma fábrica de Nova Iorque.


Maurício Costa


---------------------------------------------------------------------------------------------------------------


Vagabundas, gostosas e outras piadas


(Tatiane Ribeiro)


100 anos do Dia Internacional das Mulheres. Ou seja, no mínimo, 100 anos de luta das mulheres. Conquistamos muitos direitos, e não foi fácil. Mulher, hoje, tem o direito de estudar, votar, trabalhar (mesmo
que os índices provem que a mulher ainda ganha menos que o homem na
mesma posição – e se for negra, então…).

Mas, hoje, dizem que com a liberalização, com a pílula anticoncepcional etc, a mulher pode se considerar sexualmente livre. Ela pode, enfim, ser dona e responsável por seu próprio corpo, sem ser
coagida pelo seu senhor (pai, marido, sociedade). PODE?

Entre os muitos recadinhos, ali está, sem critérios, o “ecana vagabunda… eu bem que avisei”. Avisou? A quem? Obrigada por me contar que eu sou uma vagabunda. Obrigada por me contar que você, macho alfa,
tem o direito de fazer não importa o que e eu, pobre fêmea da espécie
que sou, não posso. Obrigada por me avisar que o ambiente universitário
é tão machista e conservador quanto todo o resto da sociedade. É sempre
bom ser lembrada que ainda tenho muito por que brigar… e muita
passeata, muita luta pelo direito das mulheres.

“Ah, mas é só uma brincadeira”. Sim, é uma brincadeira. Mas, vamos aos fatos: é na brincadeira que se pode dizer qualquer coisa que quiser, e tudo bem. É só uma brincadeira. É na brincadeira que as
verdades enrustidas podem vir a tona. Porque rir no final é dizer amém,
mas ao mesmo tempo, é fingir que não concorda.

Só por brincadeira, quando eu estava no Ensino Médio, sempre que alguma coisa sumia, eu ouvia: “procura nas coisas da Tati, ela é preta!”. E só pra se divertir, outros colegas adoram falar de quantos
essa ou aquela já pegaram. Mas, olha, são só brincadeiras, nada de mais.

Mas vamos a um fato mais recente: só por brincadeira, certos estudantes de uma universidade PARARAM as aulas, gritando que a colega era uma vagabunda por conta do tamanho da saia que estava usando. E por
conta dessa brincadeira, ela se viu obrigada a se trancar em uma sala e
ser escoltada pela Polícia Militar para conseguir sair.

Não, não estamos falando da USP. Nela, alunos da Faculdade de Direito escreveram em um jornal do Centro Acadêmico XI de Agosto (em 2005) que homossexualismo é doença e que AIDS é a solução. Mas não se
preocupe, foi só uma piada de mal gosto, nada de mais.

E não estamos falando da ECA, porque a Escola de Comunicações e Artes é livre, aceita todos os tipos diferentes. Mas não sem uma piadinha ou outra. Não sem fazer rótulos. Não sem dizer que o curso de
Jornalismo tem o ano sim e o ano não. Deixe-me explicar a piada: no ano
sim, todas as meninas são lindas e os caras são gays. No ano não, os
caras são machos, mas as meninas são barangas.

E é assim, piada a piada, que continuamos numa sociedade machista. Que continuamos fazendo da mulher um pedaço de carne ambulante. Que as dividimos entre as “pra comer” e as “pra casar”. E
isso não é uma piada. Como não é engraçado ser abordada na rua, ser
coagida, ter que pensar numa roupa que não seja provocante de mais,
porque senão, depois não reclame…

Enquanto as piadas super engraçadas continuarem passando, ainda teremos homens e mulheres achando que é normal que haja diferenciação de salários, que seja normal que a mulher tenha dupla jornada (no
trabalho e nas tarefas femininas da casa). São essas as piadas que
perpetuam que a mulher só pode chegar a um grande cargo se transar com
o chefe, afinal, teste do sofá nela.

Peço desculpas aos leitores que acham que estou exagerando. A vocês, sugiro que pensem em certezas implícitas: por que as mulheres tem que escolher entre serem bem-sucedidas e terem família? Por que as
mulheres não podem andar de decote e/ou saias curtas? E por que elas
tem que ter um homem para serem felizes?

Eu dou as respostas:por que as mulheres tem que escolher entre serem bem-sucedidas e terem família? “Essa aí largou os filhos na vida, só pensa em trabalho”. Por que as mulheres não podem andar de decote
e/ou saias curtas? “Ê, lá em casa!” E por que elas tem que ter um homem
para serem felizes? “Ih, a fulana já tem 40 e tá solteirona. Já ficou
pra titia…”

Mas não se preocupe, eu estou exagerando… são só piadas…


Aí está o cartaz:



http://mauriciocosta.blog.br/2010/03/08/sobre-vagabundas-universitarios-e-8-de-marco-100-anos-depois/