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segunda-feira, 19 de julho de 2010

O que havia antes do bullying?

08/07/2010
Por Jean Wyllys
Esta semana a Justiça condenou um estudante adolescente de Belo Horizonte a pagar uma indenização de R$ 8 mil por ter praticado “bullying” contra uma colega de sala de aula. Segundo os pais da vítima, o menino costumava chamar a garota de “tábua” e de “prostituta” e, não contente em lhe dar apelidos ofensivos, teria tentado cortar os cabelos da colega à força, levando-a a rejeitar o ambiente escolar.
Na época em que eu era colegial de escola pública, as violências verbal e física entre alunos ainda não tinha este nome – bullying - mas já existia. Naqueles meus tempos de escola, as vítimas preferenciais do bullying eram os alunos afeminados, os negros, os gordos e as meninas, necessariamente nesta ordem; quando o aluno pertencia, ao mesmo tempo, a dois ou mais grupos estigmatizados (por exemplo, uma menina negra e gorda), ele sofria as violências com mais freqüência e intensidade. Na época em que eu cursava o que hoje se chama de Ensino Fundamental, eu era constantemente vitima do bullying porque eu era sensível e afeminado. A violência não me levou sequer a pensar em desistir da escola, pois, meu amor pelo conhecimento e a certeza de que este me tiraria da miséria em que vivia superavam qualquer medo. Porém, o bullying me impedia de desfrutar de todo ambiente escolar. Por exemplo, na hora do recreio, eu não costumava sair da sala de aula por temer os apelidos e outras violências por parte de meus colegas. Mas nem todas as vitimas eram resistentes como eu. Muitas sucumbiram e abandonaram a escola. E a julgar pela notícia que abre este artigo, o ambiente escolar, em se tratando da violência entre alunos, não melhorou de lá para cá. A única diferença é o recurso à Justiça e o pedido de reparação pelos danos morais do bullying. Mas, como diz o poeta, as leis não bastam, os lírios não nascem só das leis.
O combate ao bullying passa por políticas de educação que estimulem, entre os alunos (e também entre os professores!), os valores humanistas e o respeito à diversidade. Porém, para falar em diversidade, é preciso, antes, falar de identidade. O que é uma identidade ou o que é ter identidade?
Este conceito – identidade – está presente em nosso cotidiano e em nossas relações mesmo que a gente não saiba. E o objetivo de discuti-lo é justamente melhorar a qualidade de nossas relações. E quando falo em melhoria em nossas relações não me refiro apenas ao benevolente apelo à tolerância e ao respeito para com quem é diferente de nós; refiro-me ao reconhecimento da existência do outro, ao amor ao que ele tem de diferente.
Posso dizer que a identidade é aquela idéia que temos de nós próprios como sujeitos integrados, inteiros, unificados e dotados das capacidades de razão, de consciência e ação; é um sentido de si estável: a idéia e o sentimento de que nós somos nós mesmos até morrer. A identidade é isso, mas, e a diferença, o que é? A diferença é tudo que não sou; é tudo que não somos. Nós tendemos a tomar aquilo que somos como sendo a norma, a partir da qual avaliamos ou desqualificamos aquilo que não somos.
Identidade e diferença são, sobretudo, resultados de atos de fala; precisam ser nomeados. Quando nos referimos a um colega negro como “aquele escuro que faz tal coisa”, ou a outro que é sabidamente homossexual como “a bicha que dá aula em tal lugar” estamos construindo a diferença por meio da fala e desqualificando-a. As diferenças são sempre impostas a partir da afirmação das identidades. E essa afirmação implica sempre hierarquia, exclusão e classificação (homens, brancos, bonitos, magros, jovens, letrados e ricos estão por cima, são incluídos e normais; mulheres, negros, feios, gordos, velhos, ignorantes e pobres estão por baixo, são excluídos e anormais). Ou seja, a hierarquização, a exclusão e a classificação são sempre feitas a partir do ponto de vista da identidade.
Como vocês podem perceber agora, mesmo não refletindo acerca da identidade, agimos em nome dela, por isso é importante discuti-la, entender sua produção, principalmente no âmbito da educação formal, que inclui relações entre alunos e professores tão diferentes entre si.

http://jeanwyllys5005.com.br/o-que-havia-antes-do-bullying
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