16/08/2008 - 09h21
"Lista suja" do Ibama tem 38 candidatos
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THIAGO REISda Agência FolhaRODRIGO VARGASda Agência Folha, em Cuiabá
Eles não foram "fichados" pela AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) , mas têm um currículo que pode ser considerado "sujo" pelos eleitores. Pesquisa feita pela Folha mostra que ao menos 40 candidatos a prefeito, vice ou vereador no país já foram flagrados explorando trabalho escravo ou cometendo alguma irregularidade em áreas da Amazônia.
O dado é resultado do cruzamento das candidaturas registradas no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com as "listas sujas" do Ministério do Trabalho e do Ibama. Isso não significa que os candidatos respondam a processos.
No dia 6 de agosto, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu que os candidatos que não foram condenados em última instância podem concorrer nestas eleições. Para o vice-presidente da AMB Cláudio Dell'Orto, com a decisão do Supremo, os candidatos das "listas sujas" devem ser julgados pela população. "Quem vai ser o juiz dessa causa é o eleitor."
Entre os candidatos na "lista suja" do Ministério do Trabalho está o presidente da Câmara Municipal de Marabá (PA), Miguel Gomes Filho (PP), o Miguelito, que tenta se reeleger. Em 28 de julho, três pessoas foram resgatadas de sua fazenda em Itupiranga (PA).
"Isso é uma brincadeira. Sou um homem honrado. O rapaz que mora em um assentamento ao lado da fazenda com o filho e a nora foi fazer uma cerca e dizem que é trabalho escravo. O engraçado é que eles ainda moram ali", afirma o vereador, que não acha que será prejudicado por estar na lista.
Oito trabalhadores foram libertados de fazendas de Joaquim Gameleira (DEM), candidato a vereador em Santa Fé de Minas (MG). A reportagem não conseguiu localizá-lo até o fechamento desta edição.
Entre os 38 políticos com áreas embargadas pelo Ibama por problemas ambientais está o prefeito e candidato à reeleição em Pacaraima (RR), Paulo César Quartiero (DEM), que disse que a inclusão de seu nome na lista é "perseguição política" do governo federal.
Outros 11 candidatos a prefeito, seis a vice e 20 a vereador estão na lista do Ibama --disponível no site do órgão-- e concorrem em outubro.
Em Vilhena (RO), uma das chapas à prefeitura é composta por Melkisedek Donadon e Rosani Donadon (vice), marido e mulher, ambos do PMDB, e cada um com área embargada em seu nome no Ibama. A Folha tentou falar com os dois na casa e no celular, sem sucesso.
Ainda de acordo com o levantamento, a maioria dos candidatos nas "listas sujas" é de Rondônia: 14 concorrem no Estado (35% do total). Já o partido com mais políticos na lista é o PMDB: são nove candidatos da legenda.
Outro lado
Multado pelo Ibama em R$ 30,6 milhões por danos ambientais em sua fazenda --na terra indígena Raposa/Serra do Sol--, o prefeito Paulo César Quartiero (DEM) quer a reeleição e é líder arrozeiro em Pacaraima (RR).
"Questiono a multa, mas me sinto honrado em estar nesta lista. Meu único crime ambiental é ser contra as pessoas que venderam a Amazônia brasileira e, agora, querem fazer a entrega."
"Essa multa foi em razão de não concordarmos com a demarcação da Raposa/Serra do Sol e por sermos contrários a esse desgoverno Lula", afirmou Quartiero, que já foi preso sob acusação de ordenar um ataque a índios.
Segundo o Ibama, dois terços do valor são por degradação em Áreas de Preservação Permanente, como nascentes e cursos d'água. Um laudo foi produzido a partir da comparação de imagens recentes da área com outras captadas por satélite em 20 anos.
Quartiero nega o crime ambiental e diz que atuação do Ibama é "lastimável". "Por isso que me orgulho de fazer parte da lista. Significa que estou no lado sadio da sociedade." Para ele, as questões fundiária e ambiental serão o centro das eleições de RR.
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